A dor é uma das queixas mais comuns no mundo, e ela pode ser dividida em algumas categorias, como a dor aguda e a crônica. Mas, como diferenciar?
De acordo com a A International Association for the Study of Pain (IASP), a melhor forma de diferenciar uma dor da outra é a duração de 3 meses.
A mais conhecida é a dor aguda, que ocorre em um episódio, é diagnosticada e tratada imediatamente, como por exemplo uma dor na lombar. Talvez você tenha caído ou se lesionado praticando algum esporte. Seu médico fará o exame, o diagnóstico e indicará um tratamento.
Dor crônica: o que é?
De acordo com um estudo recente realizado pela Universidade Federal de Tocantins, estima-se que a dor crônica é a principal causa de incapacidade, tendo prevalência mundial de 35,5%. Elacorre quando a dor persiste mesmo após a causa, a lesão ou doença tenham desaparecido. Por exemplo, se mesmo após a melhora dos seus exames e sem a indicação de nenhuma causa física para a dor na lombar permanecer, ela ainda está lá. Isso ocorre devido às alterações no sistema nervoso, em que os receptores cerebrais são sensibilizados, mantendo a sensação de desconforto.
Outras causas para a dor crônica são doenças como o câncer, esclerose múltipla e a fibromialgia, em que os pacientes sofrem de dores mesmo sem qualquer dano externo ao organismo.
Tratamento convencional
Muitas vezes sem conseguir rastrear a origem da dor, os médicos enfrentam dificuldades em realizar um diagnóstico claro e tratamento adequado, geralmente recomendando anti-inflamatórios, antidepressivos e antiepiléticos, podendo chegar até a prescrever opioides como morfina e oxicodona para casos graves de dor.
Além de terem alto potencial de criar dependência química e emocional, esses medicamentos possuem muitos efeitos colaterais para o paciente, e quando é contínuo, o uso pode resultar no desenvolvimento de tolerância, onde o paciente precisa de doses cada vez maiores para sentir o efeito.
Tratamento com cannabis medicinal
Já com a cannabis, temos uma ação que atua no organismo como um todo, e não somente em um aspecto ou sintoma. Os fitocanabinoides, compostos presentes no extrato da planta, imitam a ação dos endocanabinoides, substâncias que já produzimos internamente em nosso corpo, em prol de regular processos fisiológicos extremamente importantes.
Tanto o fitocanabinoide CBD (canabidiol) quanto o THC (tetrahidrocanabidiol) apresentam propriedades capazes de diminuir significativamente a dor. Conheça as propriedades principais de cada um:
CBD
- anti-inflamatório
- ansiolítico
- antiepiléptico
- neuroprotetor
- antioxidante
- antidepressivo
- antipsicótico
- balanceia os efeitos adversos do THC
THC
- analgésico
- melhora o humor
- relaxante muscular
- sedativo
- antiemético
- estimula o apetite
- reduz a espasticidade
Estudos demonstraram que o THC em específico, possui efeitos analgésicos 20 vezes mais potentes que a aspirina e 10 vezes mais potentes que a morfina, mas com menos efeitos colaterais e risco de dependência.
Em uma revisão sistemática de estudos realizada em 2018, foram reunidas evidências científicas da eficácia e segurança do uso de canabinoides no tratamento de condições como dor neuropática, que inclui Esclerose Múltipla, dores advindas da diabete, Parkinson e outras neuralgias, fibromialgia, dor ortopédica, dor oncológica, enxaqueca e dor ginecológica.
Diminuição da polifarmácia
O conceito de polifarmácia significa o uso contínuo de 4 ou mais medicamentos diariamente, que é a realidade de muitos pacientes que sofrem de dores crônicas. A cannabis medicinal pode ser uma solução não somente para as interações medicamentosas que todos esses remédios podem trazer para a vida do paciente, mas também para o investimento emocional e financeiro em tratamentos caros, repletos de efeitos colaterais e sem a eficácia esperada.
Dependendo da condição e da indicação médica, muitas vezes a polifarmácia pode ser substituída ou amenizada com o uso de cannabis medicinal. Um estudo publicado em 2016 mostra que 44% dos pacientes com dores crônicas diminuíram as doses de opioides, e a totalidade deles sentiram melhoras significativas nas dores, concentração, produtividade e aumento da qualidade de vida através do uso da planta.
Referências:
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