Os cuidados paliativos são uma abordagem que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes com diagnóstico de câncer. Atualmente, sabe-se que essa assistência deve ser iniciada independente do prognóstico, aplicada ao longo de todo o tratamento, não apenas em casos terminais.
Pacientes oncológicos apresentam diversos sintomas, os quais são secundários à própria doença ou são efeitos adversos do tratamento e incluem perda de apetite, náuseas, vômitos, insônia, ansiedade, depressão, dores, fadiga e constipação. O manejo destes sintomas é essencial para que os pacientes mantenham a adesão aos tratamentos, como a quimioterapia e as possíveis cirurgias, além de auxiliar na melhora do estado nutricional e imunológico.
O tratamento com a Cannabis
Existem diversas evidências benéficas do uso da Cannabis medicinal no alívio destes sintomas. Pesquisadores do Reino Unido avaliaram a administração de spray oral com THC:CBD, canabinoides presentes na Cannabis, em pacientes com dor crônica relacionada ao câncer e refratários ao tratamento com opioides. Os resultados mostraram diminuição da gravidade da dor e da fadiga, além de auxiliar na melhora do sono e também não houve evidência de perda do efeito analgésico com o uso prolongado.
Em busca de aliviar as náuseas e vômitos induzidos pela quimioterapia, um ensaio clínico recente utilizou extrato de Cannabis em pacientes que não responderam aos medicamentos antieméticos convencionais. A associação do extrato de THC:CBD com os antieméticos diminuiu a incidência das náuseas e vômitos, em que 83% dos pacientes preferiram o uso da Cannabis ao placebo.
Com relação aos sintomas de perda de apetite, um estudo mostrou que os pacientes tratados com THC relataram melhora da percepção quimiossensorial, em que a comida estava com “um gosto melhor”. O apetite e a ingestão calórica aumentaram em comparação ao placebo, além dos escores que avaliam a qualidade de vida.
Foi realizado um acompanhamento de pacientes com câncer que possuíam licença para o uso de Cannabis medicinal a fim de investigar seus benefícios. Observou-se melhora significativa nos sintomas de náuseas, vômitos, distúrbios do humor e do sono, fadiga, perda de peso, constipação, disfunção sexual, coceira e dores.
Estes achados são de extrema importância, e diante disso, em 2022, a Lei de Ryan foi aprovada na Califórnia (EUA), permitindo que pacientes terminais tenham acesso à Cannabis dentro dos hospitais. A lei recebeu o nome de Ryan Bartell, que morreu de câncer no pâncreas. Enquanto Ryan estava internado em San Diego (CA), utilizava medicamentos como a morfina e o fentanil, passando a maior parte do tempo inconsciente. Quando foi transferido para um hospital em Seattle (WA), passou a usar Cannabis medicinal. Seu pai, após ver o quanto o novo tratamento melhorou a qualidade de vida do filho, em que ele permanecia acordado, sem dores, conversava e recebia amigos, se tornou um fervoroso defensor da Cannabis medicinal.